sexta-feira, 7 de março de 2008

Uma história em comum

A última vez que se viram foi há dez anos e, agora, os muros da escola já não eram distâncias.
- Adriana!
- Oi, Beto.
O ano era 1997. Estudavam juntos. Adriana, repetente. Roberto, tímido. A paixão dele, no entanto, fulminante como lançamento de uma adaga. Conversavam todos os dias. Gostavam dos mesmos assuntos. Combinavam até na altura. Só havia uma diferença abissal entre eles: Adriana era dois anos mais velha que Roberto.
Fossem eles maduros, tudo bem. Mas na oitava série, não dava. Roberto vivia seu drama só, sem entender porque o destino o amaldiçoara com um amor impossível por uma menina que já tinha a cabeça em outros lugares e horizontes.
O que nunca deixou de ser uma condição cruel.
Adriana gostava de Roberto. Não era amor o que sentia, definitivamente. Simpatizava com o jeito quieto dele, o modo como fazia as coisas e a inteligência prática que demonstrava.
- Tu vais ser jornalista - dizia ela.
Naquela época, era ligada em um menino do segundo grau que rivalizava em quietude com Roberto. Chamava-se Pedro. Além das boas notas, Pedro tinha um sorriso tão agradável e simpático que mais se parecia com um abraço.
Até que um dia derreteu-se por Adriana.
Roberto dispôs-se, no começo. Resignação era, afinal, o destino dos amores sem causa ou efeito.
- Sou amigo dos dois - disse algumas vezes para si mesmo, em voz alta, só.
Não duvide: aquela atitude de grandeza com o novo casal da escola traía o seu coração. Não demorou muito a perceber que deveria afastar-se, pobre Beto. Chegou a pensar, um dia, que se chorasse tanto quanto naquele tempo poderia desidratar-se em lágrimas soluçantes.
A vida, além de Pedro, afastou Adriana e Roberto. Ela virou escriturária do Tesouro Nacional. Ele, engenheiro elétrico. Ela, mãe. Ele, macambúzio. Agora, era dona Adriana. Ele, Beto.
- Sempre achei que tu seria jornalista.
- Tu vês...
Beto estava muitos anos a frente de Adriana quando se reencontraram e sua paixão juvenil ressurgiu não como chama, visto que era um homem sério e pouco afeito à veleidades. Assemelhava-se à nostalgia das lembranças incompletas ou não acontecidas e traziam à boca de Beto um gosto desconhecido e bom, quase confortante. E se tivessem dado certo?
- Agora, sou mãe. Casei. E tu?
- Eu? Não casei. Não é para mim.
- Não quiseste ter família, Beto?
A pergunta o pegou de surpresa. Sim, Beto quisera uma família com Adriana. Infantilmente, desejara filhos com ela, viagens de férias, uma casa confortável e até as brigas corriqueiras de um casal Beto imaginara, um dia, com Adriana.
- Não, não é para mim.
- Bom te ver.
Quando Adriana pronunciou aquelas palavras, Beto sentiu que a conversa chegava a um ponto intransponível. Desejou profundamente que tivesse coragem para contar a ela o que havia sentido. Pensou, por um segundo, que a distância do tempo poderia fazê-la compreender as intensidades juvenis e esquecidas daquilo tudo mas não deu. Beto era um tímido.
- Até a próxima, Beto.
- Até.
E partiram cada um na direção de um futuro ausente de encontros no grande desencontro que fora sua história em comum.

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