segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Dos meus ofícios

Escrevo porque não sei cantar.

Sobre ela

- Sempre achei que ela tivesse mais talento do que juízo.
- É?
- Fazia coisas sinceras, provocações. Usava mais o instinto do que a razão.
- Isso é ruim?
- Sei lá.
- Acho honesto.
- Acho antipático.
- Não seja cruel!
- Desculpe. Não sei ser menos ácido.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Fragmentos do que ouço só de pensar

Teu corpo alimenta meu espírito
Teu espírito alegra minha mente
Tua mente descansa meu corpo
Teu corpo aceita o meu como a um irmão

Estou longe, longe
Estou em outra estação.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Diálogo - I

Na rua, céu cinzento. Um dia morno de verão.
- Adorei.
- O quê?
- O que tu escreveste. Sobre a musa... lembra?
- Sei.
- Queria um amor desse jeito para mim.
- ...
- Já falaste com ela?
- Sobre ela ser minha musa? Claro que não.
- ?
- De repente, estraga.
- É.
- Vai que ela diz "poblema" ou tem um dente trincado? Melhor deixar quieto.
- Entendo. Até mais.
- Valeu.

Amigos no supermercado

- É dura a reprovação dos amigos,
Pensa.

Achou que fazia tempo.
Que os dias o absolveriam
Emendariam o passado
E tudo seria como antes, muito antes.

- Não foi bem assim,
Quis dizer.

Não disse. Nunca disse nada.
Não queria explicar-se.

Enquanto tantos se divertem
Reparando em alegrias e sorrisos
Ele fica só.
De olho em todos e só.
Conversando com os anjos
E embaralhando ilusões.

...

- Às vezes me sinto como o cara mais feio dessa festa.

I'm walking after you

Meu amor me encontrou.
Nas curvas da caminhada.
E ela? Nem aí. Caiu os olhos,
Mordeu o canto da boca
Seguiu com seus passos largos
Quebrou à esquina.

"If you walk out on me
I'm walking after you."

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Quando as horas se fecham

Desceu.
Passou por velhos cenários
Cenários habituais
Mesquinhos, cotidianos.

Atravessou a mesma rua
A mesma calçada
A mesma.

- Whiskey.

Queimou-lhe a garganta como sempre
O primeiro gole
Os mesmos 46 goles.

Então, virou o homem que queria ser
Autêntico e só
Transparente e só
Quase feliz e só

Só.

Morreu ao atravessar a mesma rua
Pela mesma calçada
Diante dos familiares cenários
De sempre.

Subiu.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Why?

- Quer dizer que é tudo inventado?
- É.
- Criativo... Mas meio sem propósito.
- E desde quando divagações imaginárias tem algum propósito?

O quibe ou o Diálogo para um filme

- Tu não dava bola.
- ?
- É. Quando eu queria, tu não me dava bola. Aqueles lances de usar, sabe?
- ... Bom... ãh...
- Pois é. Sem tua atenção, despenquei das minhas ilusões.
- Não era minha intenção, eu juro...
- Não! Mas foi a melhor coisa que me fizeste.
- ...
- Cresci.
- Te amo.
- Agora é tarde. Não subo mais em ilusões.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Religião

- Minha religião é uma alma perturbada e imperfeita que me olha atravessado pelo espelho da inveja.
- Leu isso onde?
- Inventei agora.
- Pára.
- ...
- Não glamouriza e bebe.
- Tá. Me passa a vodka.

Quietude

Por onde andará minha poesia?
Ontem a noite quando sai de mim
A deixei jogada na gaveta,
Desarrumada, desamparada,
Cheia de poeira e rejeição,
Derramei dúvida nas minhas palavras,
E sai de mim.
Fora eu sou mais leve... as palavras pesam,
No embaralho da mente defumada
Esqueço.
No embalo escrevo, e esqueço.

A vida é um papel em branco pra quem quer escrever uma poesia
Só nos dão uma página.

Como não sou poetisa, usei a minha folha só pra enrolar.


(De uma amiga que era inqueita e constante e agora explicando porque se dedica ao silêncio contudente)

O que faço?

Vivo de segregar
armazenar
hermeticamente contar
palavras.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Dúvidas

Misterioso e profundo coração
A que te entregas amores proibidos?
Sem sentido, sem nexos
Sem razão.
Inertes, puros
Indevidos
Sem conseqüências,
Sem riscos.

E, agora,
Sem nada para se ver.