domingo, 25 de janeiro de 2009

Cerveja, sorvete, nós dois

Então ficamos combinados que você me dá o que quero e lhe dou o que estiveres procurando em alguém. Afagas meu rosto enquanto ressono, e componho crônicas de amor sempre que estiver inspirado por seu encantamento e inteligência.

Ficamos acertados que o bom-humor regerá nossas Vidas, que serei sincero e que você nunca me negará a mão ou um não. Seremos irônicos, comedidos, comilões, bem amigos. Beberemos cerveja com os amigos que gostam de álcool e sorvete com os que preferirem uma boa comida com sobremesa.

Fica acertado que se eu chorar, vais me entender. E que vou passar a mão nos seus cabelos como se os estivesse acariciando pela primeira vez, todas as vezes que estiveres furiosa e em suas TPM's.

Combinamos então que caso um desmorone, o outro será fortaleza o suficiente pra proteger ambos, e que uma das nossas quatro mãos regerá as outras três de forma que elas andem em compasso único, embaladas pelo som que nossas bocas emitirão quando beijarmos debaixo do céu ou da ponte de cartas que montaremos enquanto jogarmos baralho.

Ficamos acertados que trabalharemos para que nosso futuro seja belo, digno, e que obtenhamos sucesso sem pisar naqueles que não merecerem. Estaremos prontos pras promoções e demissões, sempre ouvindo o que o outro tiver a dizer, perguntar, discordar.

Decidimos então que a MPB e a Bossa Nova mandarão no som da nossa sala e nos ouvidos que lá estiverem. Que todos saberão que gostamos de músicas que fazem sentido. Daremos sempre preferência por letras bonitas e acordes de violão misturados com uma voz doce e meio rouca.

Ficamos pré-acordados que se eu despertar antes, vou levantar da cama tentando não fazer barulho pra te trazer café com pães, e que se acordares antes, só precisarei de um selinho para ser o homem mais feliz do Mundo desde o primeiro instante do meu dia.

Deixamos um ao outro saber que se vierem filhos, tentaremos ser os melhores pais, mas se não vierem, tudo bem, seremos os melhores tios, os melhores padrinhos. De vez em quando, ficaremos com as crianças num final de semana para que seus pais curtam a noite enquanto brincamos de casinha, com doces, balas, Dvd's infantis e narizes de palhaço.

Concordamos que cantaremos juntos, às vezes afinados, outras, sem ritmo, melodia. Ás vezes no banho, outras na cozinha, mas sempre cantaremos, afinal, cantarolamos versos e os escrevemos por ai desde sempre para que fossem base-mor de nossa inspiração poética e profética

Combinaremos nossas compras no supermercado pra que um não traga um carregamento de fast-food e o outro tão somente salada, afinal, temos que viver em harmonia com a carne mal-passada e a alface bem lavada.

Faremos amor sempre que desejarmos, sem importar o cômodo da casa, azar se acordamos os vizinhos, se pagarmos alguma multa. Afinal, precisaremos de loucura no começo pra termos motivos de risadas junto com nossos amigos nas mesas dos bares ou buffet's de sorvete.

Nos prometemos fiéis não um ao outro, mas a nós mesmos e ao que pensamos sobre fidelidade, sobre o que consideramos correto, justo e coerente para com o próximo que amamos e respeitamos.

Enfrentaremos vendavais, contaremos sinais, apagaremos rivais, nos beijaremos no Sol, na chuva e na frente dos nossos pais.

Combinaremos nossos passos na rua, para que um não ande na frente do outro, para que um não corra mais do que o outro pra chegar mais rápido. O que importa não é a velocidade, mas sim a direção do sentimento.

O que fica com o tempo? Qual é a simetria que importa, que horas você vai bater na minha porta?

Qual é a sua proposta pra eu te faça feliz?

Este texto é de Adriano Schneider