quinta-feira, 13 de março de 2008

Três de três

O que sentia, na verdade?

Desmanchou um a um os castelos de tranqüilidade e segurança de hábito para admitir, pela primeira vez em dez anos, que a paixão voltara a alojar-se em si. Relutou no começo, também é verdade, mas o que fora não tinha volta. E no meio dos entulhos em que se transformaram suas lembranças, sentiu um certo prazer enviezado em amar alguém na distância dos anos.

Seu amor não exigia a concretude do corpo - o que tacitamente lhe fora proibido. E a crueldade da inexistência se mostrou a ele com o brilho relevante dos amores que acontecem nos planos mais altos da consciência, ou no espírito e não nas ruas, não soube dizer de certeza. Tinha o desejo de viver aquilo de novo, de sentir-se vivo e jovem de novo. Não, não pediria a ela que se entregasse, nem que ao menos o compreendesse. Queria somente o direito permitido de amá-la com a intensidade dos justos e a alma petrificada como um vaso de flor.

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