Sempre começo o banho pelo pescoço, da esquerda para direita. É só uma chuveirada, mas não queria estar aqui. O sabonete escorrega pelo corpo molhado, os cabelos do peito se enchem de espuma espessa. É de propósito, isso. Enxaguo. Depois, penso. A água não está fria, nem eu. Lembro do MSN ligado e da tua foto no canto do vídeo. Agora, às pernas.
- O que será que ela está fazendo? - pergunto a ninguém que me acompanha.
Na verdade, quero saber no que estás pensando enquanto tomo banho.
A mão ensaboa as costas ao mesmo tempo em que o pensamento viaja a endereços incertos. Imagino que estivesse comigo. Do peito, desço mais um pouco mas fecho os olhos.
- Se estivesse aqui...
O que faria se estivesse aqui? Teria te puxado para dentro desse box, dane-se a roupa. O sabonete cai, não junto. Agora, não. Estou te vendo na minha frente de cabelo solto, molhado, blusa molhada, a boca úmida. A mesma blusa vermelha... grudada no corpo. Os calores não se acomodam em parte alguma e sinto que começo a estourar.
Abro a blusa. Já não estás mais de roupa alguma. Toco a pele com a mão ou é a tua pele que me toca? O cheiro de erva-doce do sabonete me confunde. O teu cabelo entranha na minha barba mas nem ligo.
Aperto os olhos. O abraço é forte, duro, lento e sôfrego. Minha mão espalmada desenha tuas costas enquanto a boca percorre o pescoço de uma ponta à outra. É ali o beijo tímido e quente, excitante, que primeiro te deixa com os músculos trêmulos. As pernas se enroscam, tua boca sussurra incompreensibilidades e sinto.
Sinto, mas se abro os olhos não vejo nada.
A fantasia se desfaz no vapor da água. Foste embora? De um instante para outro, o barulho do chuveiro me acorda. O box vira algo enorme, descomunal, e só um sabonete caído no chão me lembra que ainda estou no banho. Ligo a água fria e espero que passe.
- pronto.
- está limpinho?
- e cheiroso.
Escrevo. E espero que passe.
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